O ano começa e logo uma das obrigações de
todo cidadão vem à tona: fazer a declaração do imposto de renda. Utilizar toda
a papelada para fazer o balanço dos 12 meses que passaram pode ter uma
utilidade muito importante, que vai bem além da mera burocracia. Pelo menos é o
que garante a consultora Márcia Dessen, sócia do Brazilian Management Institute
(BMI), que convida os contribuintes a olhar essa atividade sob uma ótica
diferente – a do planejamento financeiro. "Ao fazer a declaração de
Imposto de Renda você presta contas ao governo de coisas sobre as quais não
prestou contas a si mesmo ao longo de um ano inteiro", afirma. "Por
isso, essa talvez seja a ocasião mais propícia para alguém examinar quanto está
ganhando e também para refletir sobre quanto está gastando".
Certos passos são essenciais para ter uma vida
financeira saudável. Na opinião de Márcia, o primeiro e mais importante deles é
planejar o orçamento, ou seja, saber quanto dinheiro entrará na conta todo mês,
quanto deverá sair e quanto sobrará para investir. Isso, no entanto, é algo que
apenas os brasileiros mais organizados se dão ao trabalho de definir. Começar a
estruturar um orçamento exige um mínimo de dedicação e pode parecer custoso –
ou chato – demais para valer a pena. Por isso, Márcia sugere que os
interessados em colocar as finanças em dia enxerguem a declaração de Imposto de
Renda como uma ferramenta de gestão. "Quantas pessoas só descobrem nessa
hora o quanto realmente estão devendo na praça? E por que será que deixam para
fazer esse balanço apenas uma vez por ano?", questiona. "Minha
sugestão é que a declaração sirva como o pontapé para começar um controle, mês
a mês, dos ganhos e dos gastos".
Um orçamento mensal, é claro, não
precisa seguir todo o detalhamento exigido pela Receita Federal. Márcia
recomenda anotar os gastos diários em uma planilha. Para facilitar esse
trabalho, a consultora sugere pagar as contas com cartão, de crédito ou débito,
sempre que for possível. "Ao fim de cada mês, bastará somar, a partir dos
registros da fatura, todas as despesas feitas e separá-las em grandes classes
de gastos, como alimentação, moradia ou entretenimento", diz. O ideal, na
visão da planejadora financeira, é usar dinheiro em espécie apenas para fazer
as pequenas compras corriqueiras. "O valor de cada saque de dinheiro pode
ser totalmente contabilizado numa linha de 'diversos'. É mais fácil e mais
estimulante do que se obrigar a anotar cada cafezinho comprado na rua".
Controlar os gastos é o que permite às pessoas evitar entrar em armadilhas
financeiras, como recorrer ao crédito para dar conta do consumo do dia a dia,
um alerta que Márcia dá sempre que tem uma oportunidade. "Dívidas costumam
custar caro e é necessário ter consciência desse preço antes de parcelar qualquer
compra", afirma.
Apenas quem for capaz de planejar
o orçamento e de evitar as "dívidas ruins" – que financiam o consumo
diário – conseguirá chegar ao fim do mês com uma folga financeira. Na prática,
significa que pode sobrar dinheiro para investir. E quando isso acontece, é
preciso buscar alternativas de onde aplicar os recursos poupados. Ela ressalta
que o principal fator a se considerar para tomar essa decisão é o tempo.
Novamente, planejar é a palavra de ordem. "Perguntas que precisam ser
respondidas são: para que quero esse dinheiro e em quanto tempo. Sem definir
esses dois pontos, é difícil fazer a opção mais adequada", afirma. Um dos
objetivos de investimento que, segundo Márcia, devem estar entre as prioridades
de qualquer um é guardar dinheiro para a aposentadoria. Aplicar nos planos de
previdência complementar vendidos pelos bancos são uma alternativa que embute
vantagens tributárias, mas a consultora ressalta que também é possível fazer
essa economia por conta própria.
O patrimônio que foi possível
construir ao longo da vida será o resultado de todas essas decisões – fazer ou
não um orçamento, contrair dívidas ou pagar à vista, e onde investir o que
sobra. Espera-se, diz Márcia, que essas decisões sejam tomadas sempre de forma
voluntária e consciente. "O problema maior é alguém descobrir, tarde
demais, que não conseguiu juntar um patrimônio suficiente para gerar renda e
garantir o sustento no restante da vida", afirma Márcia. Nesses casos, há
poucas alternativas a não ser continuar trabalhando, mesmo na velhice. Para
aqueles que acham que olhar atentamente para o próprio bolso importa pouco,
Márcia dá um recado: "Só vive de renda quem tem disciplina e paciência
para planejar as finanças". Qual será a sua opção?
fonte: xp investimentos
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